Luz azul digital e Envelhecimento da pele: novas abordagens para o tratamento antienvelhecimento
Já é bem conhecido no meio científico e bem disseminado que a radiação ultravioleta (UV) é responsável pelos principais efeitos danosos à nossa pele. Essa radiação corresponde a somente 10% do espectro solar e a porção que chega à superfície terrestre é formada pelos raios UVB e UVA (290 - 400 nm), ambos responsáveis pelo envelhecimento precoce, câncer de pele e supressão do sistema imune cutâneo.
No entanto, tem aumentado a atenção e o número de estudos a respeito dos efeitos nocivos na pele oriundos dos outros 90% da luz solar que atingem a atmosfera terrestre: a radiação infravermelha (IR, 700 nm – 1mm) e a luz visível (400 – 700 nm). Hoje vamos falar especificamente da faixa da luz visível, especialmente sobre a luz azul, também chamada de luz visível de alta energia (400 – 500 nm). Com a utilização em massa de equipamentos digitais, especialmente smartphones, tablets e laptops, as pessoas ficam conectadas por diversas horas diariamente, expondo-se constantemente à luz azul emitida por esses dispositivos.
Esquema demonstrando a penetração na pele da radiação UV, Visível e Infravermelha (IR)
Diferentemente da luz UV que atinge um indivíduo em diferentes proporções e intensidades durante o dia, a luz azul é emitida tanto pela luz do sol quanto pelos dispositivos eletrônicos.
Estudos apontam que a luz emitida por esses dispositivos digitais durante à noite inibe a secreção do hormônio melatonina responsável pela regulação do sono, ocasionando distúrbios do ritmo circadiano, o que pode levar à problemas de insônia e afetar a qualidade de vida além de fadiga ocular e aumento do risco de depressão.
Entretanto, poucos estudos estão disponíveis sobre os efeitos prejudiciais da luz azul no âmbito da pele humana, especialmente a longo prazo. Um estudo japonês publicado recentemente chama a atenção. Foi constatado que a luz azul é altamente absorvida por cromóforos cutâneos sendo capaz de aumentar o estresse oxidativo em células de queratinócitos humanos – as células vivas da epiderme da nossa pele - sendo que a formação de espécies reativas de oxigênio do tipo superóxido sugere que a luz azul pode provocar o fotoenvelhecimento da pele humana de maneira similar à radiação UVA.
Além disso, alguns estudos demonstram que a luz azul pode ocasionar degradação do sistema antioxidante não produzido naturalmente na nossa pele, como os carotenóides, contribuindo para uma diminuição das defesas contra o estresse oxidativo.
As estratégias para proteção solar atualmente focam em filtros solares e sistemas antioxidantes. As formulações fotoprotetoras incluem filtros solares químicos e/ou físicos do tipo UVB (diretamente relacionados ao FPS do produto) e UVA (que deverá ser no mínimo 1/3 do valor do FPS no Brasil). Os filtros solares do tipo físicos formam um escudo sobre a pele refletindo na faixa da luz visível. Entretanto, a capacidade fotoprotetora da luz azul desses filtros é considerada baixa. Por isso, diversos fornecedores têm apresentado novidades em relação a ativos para atuar especialmente na luz azul, empregando diferentes mecanismos de ação. Um dos primeiros ativos com publicações e utilização em fotoprotetores é da classe dos carotenoides, a luteína e a zeaxantina.
Na tabela abaixo estão relacionados alguns dos principais ativos disponíveis atualmente para o combate dos efeitos nocivos da luz azul:
Em artigo recentemente publicado pela revista Cosmetics & Toiletries (2018), é proposto uma estratégia tridimensional para proteção cutânea à luz azul: filtros solares físicos que reduzem a transmissão da luz azul (400-500 nm), vitaminas como B3 (niaciamida), B6 e “E” (dL-α-tocoferol) além de ativos específicos que defendem a pele dos danos oxidativos.
Filtros solares com ação nos espectro da luz azul:
Um dos lançamentos internacionais de fotoproteção que exemplifica essa abordagem foi da Lancaster com a linha “Full light technology”, que foca em uma comunicação sobre a importância da “proteção de 100% dos raios solares” (UV, IR e visível). As estratégias da linha se baseiam, obviamente, em filtros clássicos que absorvem e dispersam os raios UVA, UVB e luz visível, na ação neutralizante de radicais livres por meio de extratos antioxidantes e também na ação refletora da luz visível e IR através de uma tecnologia de microesferas.
Como se observa uma rápida evolução em todas as áreas da cosmetologia, é de se esperar um crescimento no número de claims relativos à proteção de amplo espectro, incluindo o IR e a luz azul, além de outros ativos com efeitos específicos para proteger a pele da luz azul, assim como a introdução de novas tecnologias e ativos para atenuar esses danos.
O potencial de uso de apelos de proteção e combate dos efeitos danosos da luz azul vai muito além de fotoprotetores. Essa tecnologia pode ser empregada em produtos anti-aging de uso diurno e especialmente noturno, BB creams, maquiagens para face, olhos e lábios, apenas como exemplos.
Referências:
Diffey, B. L., and P. M. Farr. "Sunscreen protection against UVB, UVA and blue light: an in vivo and in vitro comparison." British Journal of Dermatology 124.3 (1991): 258-263.
Godley, B.F. et al. “Blue Light Induces Mitochondrial DNA Damage and Free Radical Production in Epithelial Cells” Journal of Biological Chemistry 3.280 (2005):21061-6.
Mendrok-Edinger et al. “Into the Blue: Novel Test Reveals Blue Light Damage, Protection Strategies”. Cosmetics & Toiletries 133.1 (2018): 12-29.
Nakashima, Yuya, Shigeo Ohta, and Alexander M. Wolf. "Blue light-induced oxidative stress in live skin." Free Radical Biology and Medicine 108 (2017): 300-310.
Palombo, P., et al. "Beneficial long-term effects of combined oral/topical antioxidant treatment with the carotenoids lutein and zeaxanthin on human skin: a double-blind, placebo-controlled study." Skin pharmacology and physiology 20.4 (2007): 199-210.
https://www.lancaster-beauty.com/
http://www.cosmeticsdesign-europe.com/Market-Trends/Blue-and-infrared-light-anti-pollution-skin-care