/ Shampoo Sulfate-free, livre de sulfatos

Como formular Shampoo Livre de Sulfato (Sulfate-free)?

Os Shampoos livres de sulfatos ou “sulfate free" ganharam mercado nos últimos anos, disseminando-se entre marcas de prestígio e massa. Apesar desse conceito não ser novo, com a popularidade do empoderamento das mulheres de cabelos cacheados em alta, muitas blogueiras ajudaram a disseminar o conceito da marca Deva Curl, de produtos "Low Poo" (livre de sulfatos), facilitando a popularidade de Shampoos com esse conceito.

Mas o que realmente são produtos sulfate-free?
Os Shampoos e sabonetes líquidos contém como agentes de limpeza tensoativos de caráter aniônico, anfotérico e/ou não-iônico. O tensoativo aniônico é o agente de limpeza principal que quando ionizado fica carregado negativamente. Em Hair Care, o tensoativo aniônico mundialmente e amplamente utilizado é o Lauril Sulfato de Sódio (INCI name: Sodium Lauryl Sulfate) e o Lauril Éter Sulfato de Sódio (INCI name: Sodium laureth sulfate) que apresenta alto poder de espumação (formação de espuma rápida e volumosa), alto poder de detergência (limpeza do sebo, sujidades e partículas), facilidade de espessamento e baixíssimo custo.

Entretanto, devido seu alto poder de detergência, tensoativos sulfatados acabam retirando em excesso lipídeos tanto da pele do corpo quanto do couro cabeludo, além da gordura da própria haste capilar. Outra desvantagem é o potencial irritante cutâneo dos sulfatados. Shampoos sulfatados podem ocasionar maior desbotamento da coloração de cabelos tingidos e maior ressecamento em fios naturalmente ressecados como cabelos cacheados ou crespos.

Dessa maneira, os Shampoos Sulfate-free empregam a substituição dos tensoativos sulfatados por outras classes de tensoativos, associados a tensoativos secundários, como a Cocamidopropil betaína e aqueles não-iônicos como os alquil poliglucosídeos.

Benefícios de Shampoos Sulfate-free:

  • menor detergência com consequente ação limpadora mais suave, o que é bastante interessante para fios naturalmente ressecados (cabelos crespos/cacheados) ou para fios ressecados devido processos químicos como alisamento e tintura
  • menor potencial de irritação no couro cabeludo, sendo muito interessantes para couro cabeludo sensível
  • menor desbotamento da cor em cabelos coloridos por tinturas permanentes e semi-permanentes.

Exemplos de produtos no mercado capilar brasileiro ou internacional empregando o conceito Sulfate-free:**

Loreal-sulfate-free

Inoar

Lola

Eu elenco aqui os 3 desafios críticos que considero para a substituição dos tensoativos sulfatados por outros tensoativos:

1°) custo mais elevado , já que os alquil sulfatos e alquil éter sulfatos são os mais baratos existentes;
2°) Baixa espumação: há a necessidade de adicionar maiores concentrações de tensoativos para atingir espumação próxima dos sulfatados, resultando em elevado teor de sólidos na formulação total. No entanto, muitas formulações sulfate-free apresentam menor espumação;
3°) Dificuldade de espessamento: outras categorias de tensoativos necessitam espessantes específicos em altas concentrações, de custo muito mais elevado em comparação com o cloreto de sódio.

Como fazer para formular um Shampoo Sulfate-Free?

Passo 1) Selecione o tensoativo primário ou tensoativo principal
Aqui você pode selecionar um tensoativo aniônico. Abaixo seguem algumas opções de tensoativos interessantes:

Sulfosuccinatos:
Disodium Laureth Sulfosuccinate (Chemccinate™ DSLS Surfactant, Lubrizol/Dinaco)
Vantagens: baixo custo e baixo potencial de irritação.

Sarcosinatos:
Sodium Lauroyl Sarcosinate (ORAMIX™ L30 (Seppic)
Vantagem: ótima espumação. Pode ser usado como tensoativo primário ou secundário.

Isetionatos:
Sodium Lauroyl Methyl Isethionate (Iselux™ LQ-CLR, Innospec).
Pode ser espessado com cloreto de sódio, CAPB e Sodium Lauroamphoacetate. Para obter uma espuma muito rica, recomenda-se 30% do Iselux LQ-CLR.
Desvantagem: custo mais elevado

Glutamatos:
Disodium Cocoyl Glutamate (AMISOFT® ECS-22SB, Ajinomoto)
Vantagens: possui capacidade condicionante do fio, deixando os cabelos com sensação de hidratação além de baixíssimo potencial de irritação.
Desvantagem: custo

Passo 2) Associe pelo menos um tensoativo secundário (co-tensoativo), preferencialmente um anfótero e outro não-iônico:

Betaínas (anfóteros):
A Cocamidopropil betaína é o anfótero de escolha por ser uma commoditie de baixíssimo custo, que aumenta espuma, diminui a irritação dos sistemas aniônicos além de auxiliar no espessamento da formulação. Oferece um efeito sinérgico com tensoativo aniônico.
Outras opções de anfóteros: Coco-betaine, Lauramidopropyl betaine.

Alquil Poliglucosídeos (não-iônicos):

  • Lauryl glucoside (Plantaren® 1200 – BASF, Embacaps/Chemspecs)
  • Decyl glucoside (Plantaren® 2000 – BASF, Embacaps/Chemspecs)
  • Coco-glucoside (Plantarem® 818 UP- BASF ou EcoSense™ 919 - Dow (Aqia)
    Vantagens: baixíssimo potencial de irritação (alta compatibilidade cutânea), formação de uma espuma muito cremosa e de longa duração.
    Desvantagem: custo.

Passo 3) Selecione um ou mais espessantes para dar viscosidade à sua formulação:
Exemplos de espessantes disponíveis no mercado:

  • PEG-120 Methyl Glucose Trioleate (Glucamate™ LT, Lubrizol/Dinaco)
  • PEG-120 Methyl Glucose Dioleate (ANTIL® 120 PLUS (Evonik/Cosmotec)
  • PEG/PPG-120/10 Trimethylolpropane Trioleate (and) Laureth-2 (Arlypon® TT, BASF/Embacaps ou Chemspecs)
  • Sorbeth-450 Tristearate (and) Water (and) PEG-9 Cocoate (and)
    PEG-32 Distearate (and) PEG-175 Distearate
    (Oxyflow S 6800, Oxiteno/MCassab)

Passo 4: adicione agentes de condicionamento e demais aditivos de formulação
Agentes de condicionamento: Poliquaternium-7, Polyquaternium-10, goma guar quaternizada, silicones, etc.
Aditivos: perolizante (precisa ser sulfate-free), quelante (EDTA), acidulante (ácido cítrico), fragrância, corante, etc.

Uma vez realizado testes em mechas e salão-teste com voluntárias o protótipo selecionado deverá ser submetidos a estudos de estabilidade acelerada para determinação do prazo de validade e verificar possíveis instabilidades.

Referências bibliográficas:

CORNWELL, P. A. A review of shampoo surfactant technology: consumer benefits, raw materials and recent developments. International Journal of Cosmetic Science, v. 40, n. 1, p. 16-30, 2018.
DRAELOS, Z. D. Hair care: an illustrated dermatologic handbook. CRC Press, 2005.
PANTELIC, I.; CUCKOVIC, B. Alkyl polyglucosides: an emerging class of sugar surfactants. In: Alkyl Polyglucosides. 2014. p. 1-19.