O pH fisiológico da pele – acidez ótima para integridade da função barreira e microbiota cutânea

A camada mais superficial da pele (aquela em contato com o meio externo), o estrato córneo, possui o chamado manto ácido, responsável por manter a pele em condições homeostáticas ótimas.

Enquanto camadas mais internas da epiderme possuem pH 7,0 (neutro), o estrato córneo possui pH ácido. O valor exato do pH da pele varia de estudo para estudo. Os produtos cosméticos normalmente assumem que o pH fisiológico está entre 5,0 – 6,0. Porém, diversas literaturas científicas demonstram que o pH do estrato córneo é menor que 5,0, isto é, mais ácido ainda (exceção ao pH de recém nascidos que apresenta valores mais elevados, entre 6,3 a 7,5).

Segundo um estudo multicêntrico realizado com 330 voluntários de diversos países (Lambers et al, 2006), o pH da superfície da pele do antebraço possui valor médio de 4,7. Isso indica que os produtos cosméticos para aplicação cutânea deveriam ter pH ligeiramente menor do que 5,0 para serem considerados fisiológicos.

Quais os benefícios do pH ácido?

1. MICROBIOTA CUTÂNEA

  • manter a flora residente de microrganismos na pele, as “bactérias do bem” que fortalecem a pele contra a colonização de bactérias patogênicas, as “bactérias do mal” (Gram negativas como E. coli e Pseudomonas e Gram-positivas como Staphylococcus aureus). Bactérias patogênicas têm seu crescimento favorecido em condições alcalinas enquanto que em condições ácidas podem ser inibidas.

2. FUNÇÃO BARREIRA PROTETORA

  • manter a função barreira da pele, protegendo-a da entrada de vírus, bactérias e substâncias externas nocivas além de evitar a desidratação por perda de água transepidérmica (TEWL);

3. APARÊNCIA DA PELE

  • a melhora da barreira cutânea auxilia a regular o processo descamativo da pele, reduzindo a pele seca, a descamação e a sensação de prurido (coceira).
    pH-da-pele
    pH-da-pele-2-1
    Importante mencionar que a microbiota da pele sofre influência de diversos outros fatores endógenos e exógenos, não discutidos nesse artigo.

Fatores que influenciam o pH da pele:

  • o uso de água alcalina na pele, assim como sabonetes em barra (saponificados) e produtos de pH mais alcalino alteram o pH da pele em até 6 horas. A elevação do pH da pele desequilibra a flora bacteriana residente, prejudicando a microbiota cutânea;
  • idade: recém-nascidos apresentam pH mais alcalino assim como o aumento da idade ocasiona um incremento do pH da pele que está também relacionado a problemas como ressecamento, descamação e coceira, todos associados à função barreira (SCHREML et al, 2014)
  • fototipo (pigmentação da pele): peles mais pigmentadas (fototipos IV–V) apresentam pH inferior à peles menos pigmentadas (fototipos I-II) (ALI et al. , 2013);
  • determinadas doenças cutâneas.

Uso de cosméticos com pH ácido menor que 5,0:
Diversos estudos demonstram que o uso de formulações cosméticas com pH mais ácido traz benefícios à homeostase cutânea, especialmente em pessoas mais idosas já que essas apresentam pH cutâneo mais elevado. Blaak et al. (2011) demonstraram que o uso de uma emulsão com com pH de 3,5 a 4,0 durante 4 semanas normaliza o pH da pele de pessoas com idade de aproximadamente 80 anos que apresentavam pH desregulado e comprometimento da função barreira da pele com o envelhecimento. A regularização do pH para níveis mais ácidos melhora a coesão entre as células e a integridade da barreira cutânea.

Dessa maneira, é importante o formulador de produtos cosméticos e dermocosméticos preocupar-se com o pH final da formulação e deve levar em conta sua influência no estado saudável da pele. Obviamente outros fatores como a seleção criteriosa de ingredientes seguros, em concentrações adequadas, bem como o sensorial, a segurança e a eficácia da formulação final deverão ser adequadamente estudados e comprovados. Tudo isso para oferecer ao consumidor final uma experiência de resultados adequada ao seu estado da pele e suas necessidades.

Referências bibliográficas:

ALI, S.; YOSIPOVITCH, G. Skin pH: from basic science to basic skin care. Acta Dermato-Venereologica, v. 93, n. 3, p. 261-269, 2013.

LAMBERS, H. et al. Natural skin surface pH is on average below 5, which is beneficial for its resident flora. International Journal of Cosmetic Science, v. 28, n. 5, p. 359-370, 2006.

SCHREML, S.; KEMPER, M.; ABELS, C. Skin pH in the elderly and appropriate skin care. Eur Med J Dermatol, v. 2, p. 86-94, 2014.

TELOFSKI, L. S. et al. The infant skin barrier: can we preserve, protect, and enhance the barrier?. Dermatology Research and Practice, v. 2012, 2012.

SEGGER, D. et al. Multicenter Study on Measurement of the Natural pH of the Skin Surface. IFSCC Magazine, V. 10, N. 2, p. 107-110, 2007.