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12 dicas para formular um Autobronzeador

O mercado europeu e americano de autobronzeadores é muito rico de opções e formas cosméticas. Há gôndolas só de produtos específicos dessa categoria. No Brasil esse mercado é tímido comparado aos demais. Porém as empresas constantemente renovam o seu portfólio de autobronzeadores. Pessoalmente eu acho que há muitas oportunidades a explorar no mercado brasileiro. Somos um país com sol o ano todo em que a preocupação com cuidados solares é crescente. Dessa maneira, os autobronzeadores podem contribuir como uma alternativa à exposição solar para obtenção de um efeito bronzeado na sombra.

Como exemplo de marcas inovadoras em autobronzeadores para conhecer: St. Tropez (no Brasil vendido na rede francesa Sephora), Bondi Sands (marca Australiana) e Glow oil DHA-free da The Chemistry Brand.

Autobronzeadores-inovadores

Hoje gostaria de compartilhar algumas informações técnicas e dicas sobre ativos e ingredientes para o desenvolvimento de fórmulas autobronzeadoras.

Princípio ativo
A Dihidroxiacetona (DHA) é o ingrediente chave para desenvolver um autobronzeador. Esse açúcar pode ser obtido a partir da cana-de-açúcar e utilizado em concentrações que variam de 2 a 7%, normalmente.

Um autobronzeador clássico contém 5% de DHA e confere um efeito de bronzeado de intensidade média a intensa. Porém, há produtos de uso diário, em que concentrações menores de DHA - como 2% - permitem ao consumidor aplicar o produto todos os dias, como um hidratante, e assim ir obtendo a cor desejada, gradativamente e de uma forma mais natural. Há a possibilidade de formular produtos categorizados por fototipo, isto é, fórmulas para indivíduos com pele clara/média ou com pele média/escura (diretamente relacionados à concentração da DHA na fórmula).

Apesar de a DHA ser o ingrediente mais utilizado mundialmente há décadas, outras matérias-primas têm surgido podendo ser utilizadas isoladamente ou em associação com a DHA. É o caso da eritrulose (INCI: Erythrulose), também um tipo de açúcar que age com o mesmo mecanismo de ação da DHA (descrito abaixo). As vantagens da eritrulose são a obtenção de um tom bronzeado mais natural, menor possibilidade de manchar e maior durabilidade. O bronzeado costuma aparecer depois de 2 a 3 dias já que a reação é lenta e suave.
Uma tendência international é produtos DHA-free, ou seja, formulados sem DHA. Nesse caso, o ativo de escolha é a eritrulose, pelas vantagens apresentadas acima.**

Ativos

Qual é o mecanismo de ação?
A DHA atua reagindo com os aminoácidos da queratina do estrato córneo, a camada mais superficial da epiderme, formada por células mortas. Após cerca de 2 a 6 horas da aplicação, pigmentos do tipo melanoidina são formados através da reação de Maillard,revelando uma coloração similar a um bronzeador natural. A aplicação de autobronzeadores requer certos cuidados, como preparo prévio da pele através de depilação, limpeza e esfoliação adequada, e a sua aplicação homogênea, cuidando regiões de pele mais espessa, como joelhos, cotovelos e palma das mãos onde a reação ocorre com maior intensidade.

Dicas essencias para formulação de autobronzeadores com DHA:

Os veículos normalmente utilizados são emulsões o/a e géis. Porém há mais possibilidades de formas cosméticas autobronzeadoras, como óleos, mousses, lenços e até produtos de uso embaixo do chuveiro, como um shower tanning que bronzeia durante o banho.
O formulador tem como desafios trabalhar com as características da DHA e sua estabilidade físico-química.

12 dicas de formulação:

Dica 1 - Temperatura: a DHA se degrada em altas temperaturas. Ela costuma ser comercializada na forma de um pó que deve ser mantido sob refrigeração para não ocorrer sua degradação durante o armazenamento da matéria-prima. Da mesma forma, a DHA deve ser incorporada abaixo de 40°C na formulação (final do processo);

Dica 2 – evite ingredientes contendo grupamento amina: Nem todos os ingredientes podem ser utilizados com a DHA. Assim como o ativo reage com os aminoácidos da pele, ele também tem afinidade por moléculas contendo nitrogênio. Evite EDTA, peptídeos, proteínas e aminoácidos;

Dica 3 – evite óxido metálicos: devem ser evitados também filtros solares inorgânicos e a associação com determinados pigmentos. Há a possibilidade de associar corantes como o caramelo e alguns pigmentos, mas em baixas concentrações.

Dica 4 - pH ideal: o pH da formulação deve ficar próximo de 4,0. Isso aumenta a estabilidade da DHA na fórmula. Por isso o formulador precisa selecionar ingredientes que sejam compatíveis nesse nível de pH. Por exemplo, utilizar polímeros com boa compatibilidade com a DHA e em pH ácido como o Aristoflex AVS (Clariant) e o Simulgel INS100 (Seppic).

Dica 5 – emolientes: utilize emolientes que ofereçam alta espalhabilidade do produto, facilitando a sua aplicação e consequentemente sua homogeneidade;

Dica 6 – secagem: trabalhe com formulação de secagem rápida, para que o consumidor possa se vestir em seguida e não correr o risco de manchar as regiões em contato com o tecido têxtil;

Dica 7 – antioxidante ideal: utilize metabisulfito de sódio, um antioxidante que previne descolorações na formulação;

Dica 8 - uso de permeation enhancers, que podem aumentam o contato da DHA com a pele. Um exemplo é o Ethoxydiglycol (Transcutol® CG, da Gateffosé, distribuído no Brasil pela MCassab). Um estudo demonstrou que 20% de Transcutol® CG acelera a reação da DHA na pele, além de intensificar e prolongar o seu efeito.

Dica 9 - evite a utilização de EDTA e alfa-hidróxi-ácidos: estudos demonstram uma fraca reatividade do EDTA com a DHA, diminuindo sua estabilidade. Além disso, a adição de AHA's para baixar o pH pode ocasionar degradação da DHA, sem aparente mudança de coloração da fórmula.

Dica 10 – potencialização do efeito autobronzeador: a eritrulose, outro açúcar como a DHA, pode ser associada, produzindo um efeito bronzeado mais natural. Porém sua associação pode inviabilizar o custo da formulação;

Dica 11 - fragrância: utilize uma fragrância agradável e que auxilie a encobrir o cheiro da reação característica da queratina cutânea com a DHA;

Dica 12 – embalagem: utilize embalagens opacas, para proteger a DHA da degradação UV.

Por fim, os pigmentos formados pelo uso de produtos autobronzeadores não podem ser considerados filtros solares. Segundo a RDC N° 07/2015 da ANVISA, os chamados "bronzeadores simulatórios" ou autobronzeadores devem conter a seguinte advertência na rotulagem: "Atenção: não protege contra a ação solar". Portanto o consumidor deve ser orientado a continuar utilizando produtos com filtros solares normalmente durante o dia-a-dia e em exposições intencionais, como na praia, campo e piscina.

Referências bilbiográficas:

Garone, M. et al. "A Review of Common Tanning Methods." The Journal of Clinical and Aesthetic Dermatology 8.2: 43, 2015.

Pantini, G. et al. "Sunless tanning products containing dihydroxyacetone in combination with a perfluoropolyether phosphate." Int J Cosmet Sci.;29(3):201-9, 2007.

http://time.com/3896827/self-tanner-tanning-lotion/